- Setor elétrico aponta flexibilidade, liquidez e segurança de mercado como prioridades após encerramento do EAML 2025
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Especialistas destacam novos modelos de negócio, avanço regulatório e necessidade de fortalecer redes e mecanismos de risco
Campinas, 27 de novembro de 2025 – Os debates finais do Encontro Anual do Mercado Livre de Energia (EAML 2025), organizado pela Informa Markets em coorganização com a Associação Brasileira de Comercializadores de Energia – ABRACEEL, mostraram que o próximo ciclo do setor elétrico brasileiro será definido por três pilares: flexibilidade, liquidez e segurança de mercado. As discussões reuniram análises técnicas, comparações internacionais e avaliações estruturais sobre os desafios da abertura total.
Luiz Maurer, consultor internacional em estratégia energética, afirmou que o Brasil precisará adotar múltiplos modelos de negócio para lidar com a variabilidade das fontes renováveis. Segundo ele, baterias, resposta da demanda e usinas reversíveis terão papéis complementares. “Flexibilidade é a capacidade de equilibrar oferta e demanda em todos os horizontes de tempo. Não há solução única. É um conjunto de ferramentas”, destacou.
A experiência internacional foi reforçada por Alex Cruickshank, representante da Oakley Greenwood e integrante da Conferência Internacional de Grandes Redes Elétricas (CIGRE). Ele apresentou o caso australiano, país que opera com trinta e cinco por cento de energias renováveis e enfrenta pressões severas sobre uma rede extensa e com baixa densidade populacional. “Flexibilidade tornou-se uma necessidade sistêmica. Quando a demanda cresce e a rede está no limite, a capacidade de adaptação define a segurança elétrica”, afirmou.
A Colômbia também trouxe sua visão. Diana María Pérez Orozco, da XM, explicou que a modernização do mercado colombiano e o reforço das redes são condições indispensáveis para que mecanismos de flexibilidade funcionem. “O recurso existe, mas sem modernização regulatória, fortalecimento da transmissão e integração de serviços, o benefício não chega ao sistema”, avaliou.
Do lado brasileiro, João Guillaumon, vice-presidente de Clientes e Comercialização da Auren Energia, destacou que a matriz nacional mudou rapidamente e exige redistribuição da flexibilidade ao longo de toda a cadeia. Ele lembrou que a participação das hidrelétricas caiu, enquanto eólica e solar avançaram, com forte peso da geração distribuída. “Vamos precisar de baterias, reversíveis e novos sinais econômicos para os consumidores. A flexibilidade tem que ser distribuída para que o sistema responda de forma eficiente”, disse.
A agenda de segurança de mercado ganhou espaço com a avaliação de Eduardo Rossi, conselheiro da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Ele detalhou as etapas do monitoramento prudencial, a estrutura de salvaguardas financeiras e os efeitos da nova lei que responsabiliza agentes e gestores. “Segurança de mercado não se resolve com uma medida única. São várias camadas que constroem estabilidade e confiança”, afirmou.
O tema da liquidez e da estrutura de atacado também avançou. Dri Barbosa, CEO da N5X, destacou que modelos com contrapartida central aumentam previsibilidade e reduzem fricções. “Ambientes padronizados ampliam liquidez e permitem que compradores e vendedores operem com mais eficiência”, explicou.
Na visão jurídica e operacional, Camila Salvetti Mosaner Batich, CEO da BBCE, reforçou entregas recentes relacionadas à supervisão, liquidação multilateral e atualização contratual. Ela lembrou que o ajuste do contrato padrão e a estrutura de liquidação reduzem complexidade e fortalecem a gestão de risco. “Segurança precisa ser equilibrada. É isso que sustenta a expansão sustentável desse mercado”, afirmou.
Ao final dos debates, o setor deixou claro que o próximo ciclo de abertura exigirá coordenação entre regulação, mercado, operação e infraestrutura. Flexibilidade, liquidez e segurança formam a base das decisões que orientarão consumidores, agentes e investidores nos próximos anos.
- Integração energética no Cone Sul: países defendem avanços para garantir segurança e competitividade
Painel do EAML 2025 revela desafios físicos, comerciais e regulatórios para ampliar intercâmbio de energia na América Latina
No Encontro Anual do Mercado Livre de Energia (EAML 2025), líderes do setor energético da Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil destacaram que a integração regional é estratégica para garantir segurança de abastecimento e reduzir custos, mas ainda enfrenta barreiras físicas, comerciais e regulatórias.
Juan Alberto Luchilo, da Cammesa (Argentina), afirmou que as condições de intercâmbio melhoraram nos últimos anos, mas ainda existem limitações estruturais. Ele explicou que o fluxo com o Brasil tem maior potencial, operando por meio de ofertas semanais e suporte emergencial, enquanto conexões com Chile e Bolívia permanecem restritas. “A integração depende de acordos bilaterais amplos e maior previsibilidade entre países”, destacou.
Do Paraguai, Fábio Lucantonio alertou que o país pode atingir o limite de geração entre 2029 e 2030 e defendeu a integração bidirecional com o Brasil como alternativa mais rápida e eficiente do que construir novas usinas. Hoje, a linha permite envio de energia ao Brasil, mas não o fluxo inverso — algo que deve mudar em 2029 com a conversão de frequência nos dois sentidos. “O custo de integração física é menor que o custo de novas usinas”, afirmou.
Andrés Osta, do Ministério da Indústria, Energia e Mineração do Uruguai, reforçou que o país depende das interconexões para garantir segurança em momentos críticos. Com demanda de 2.300 MW e interligações de 2.000 MW com a Argentina e 570 MW com o Brasil, o Uruguai poderia suprir todo seu consumo via vizinhos. Osta defendeu ajustes regulatórios para permitir importações mais baratas e sugeriu mecanismos de compensação para equilibrar impactos internos. “Precisamos evoluir para modelos supranacionais que garantam cumprimento de acordos”, disse.
Representando o Brasil, Cristiano Augusto Trein, do MME, destacou que a integração exige infraestrutura robusta e fortalecimento de acordos bilaterais. Ele lembrou que o Brasil já mantém contratos ativos com o Paraguai e defendeu visão de longo prazo para não comprometer oportunidades futuras. “Confiabilidade é o elemento central da integração”, afirmou.
O painel concluiu que, para avançar, a região precisa combinar investimentos em infraestrutura, ajustes regulatórios e maior coordenação política, criando um ambiente que permita trocas firmes e aproveite complementaridades energéticas. Com isso, a integração poderá evoluir de operações emergenciais para um modelo estruturado, garantindo segurança e competitividade para todos os países.
- Digitalização, IA e Open Energy: varejo elétrico brasileiro entra em nova era no EAML 2025
Painel revela como tecnologia, integração de sistemas e medidores inteligentes vão redefinir a experiência do consumidor
No painel Varejo e Novas Tecnologias, especialistas apontaram que o avanço do varejo elétrico no Brasil depende de três pilares: digitalização completa dos processos, integração tecnológica e uso estratégico da inteligência artificial.
Tomás Baldaque, da EDP Brasil, destacou que a IA só gera valor quando os processos estão digitalizados e os sistemas integrados. A empresa já aplica modelos preditivos para falhas em rooftops solares, análise de tom de voz em atendimentos e algoritmos que ajustam margens comerciais conforme flutuações de preço. “Para a IA funcionar, antes precisamos garantir que todos os processos estejam digitalizados”, afirmou.
Luciano Benelli, da Paradigma, reforçou que a integração com as novas APIs da CCEE é decisiva para destravar o varejo. Ele apontou que as plataformas evoluíram para organizar toda a jornada do cliente e antecipou que o setor está próximo de adotar modelos de marketplace. A Paradigma também desenvolve IA reativa para automatizar consultas e ações, além de avatares virtuais para executar tarefas repetitivas.
Danilo Barbosa, da Way2, afirmou que o impacto da IA será transversal, com aplicações que vão desde análise de perfis tarifários até interpretação de faturas digitalizadas. Ele ressaltou que o avanço real depende do acesso direto aos dados do consumidor, previsto na minuta de Open Energy, com implementação a partir de 2027. “Com dados acessíveis via APIs, o setor deixa de digitalizar faturas e passa a criar valor sobre uma base estruturada”, disse.
O painel também trouxe visão internacional com Alex Cruickshank, da Oakley Greenwood, que destacou o papel da IA na integração de veículos elétricos e baterias, garantindo automação para responder a preços e condições da rede. Ele lembrou que o Brasil já discute a figura do Operador de Sistema de Distribuição (DSO), essencial para coordenar recursos energéticos distribuídos.
Por fim, Alexandre Vidal, da EY, afirmou que o Brasil está pronto para avançar com medidores inteligentes. Segundo ele, obstáculos históricos como custo e padronização foram superados, e a capacidade industrial permitiria substituir todos os medidores do país em até quatro anos. “Todos os aspectos técnicos e industriais estão prontos. Falta apenas consolidar o avanço regulatório”, afirmou.
Com IA, dados abertos e infraestrutura digital, o varejo elétrico brasileiro se prepara para uma transformação que promete mais eficiência, personalização e competitividade, conectando o consumidor às tendências globais.
- Segurança, liquidez e novos modelos: Brasil prepara terreno para abertura total do mercado livre
Painel do EAML 2025 revela estratégias para garantir estabilidade, ampliar competitividade e acelerar inovação no setor elétrico
No painel Segurança e Estruturas de Mercado, especialistas nacionais e internacionais destacaram que a consolidação do mercado livre brasileiro exige segurança regulatória, liquidez e novos modelos de negócio para enfrentar os desafios da abertura total e da transição energética.
Laurent Nery, da ENGIE Global Markets, trouxe a experiência europeia, lembrando que a formação de mercados elétricos competitivos leva décadas e depende de evolução regulatória contínua. Ela citou mecanismos como mercados de longo prazo, day-ahead e intraday, além de interconexões robustas que garantem estabilidade. “Liquidez cresce devagar, mas cresce porque mais players precisam atuar”, afirmou. Nery também destacou que a crise energética de 2022, com preços chegando a €1.000/MWh, reforçou o papel das interconexões e da cooperação regulatória para evitar colapsos.
Do lado brasileiro, Eduardo Rossi, da CCEE, detalhou avanços em segurança de mercado, como critérios de entrada e saída de agentes, monitoramento prudencial e salvaguardas financeiras. Ele ressaltou que a nova Lei 15.269 consolida a competência da CCEE para aplicar sanções e exigir garantias, além de responsabilizar gestores por prejuízos. “A abertura precisa acontecer sem surpresas e com robustez para proteger consumidores e agentes”, afirmou.
Dri Barbosa, da N5X, defendeu a adoção da contrapartida central para ampliar liquidez e reduzir risco, citando exemplos do Japão e da Europa. “Quando a bolsa assume o papel de compradora de todos os vendedores e vendedora de todos os compradores, a liquidez cresce e as barreiras de crédito desaparecem”, disse. A N5X desenvolve modelos de risco com apoio da EXX, Nodal e B3 para acelerar a maturidade do mercado brasileiro.
Na mesma linha, Camila Salvetti, da BBCE, apresentou ações para reforçar segurança jurídica e operacional, como supervisão integral dos negócios, liquidação multilateral que reduziu volumes financeiros de R$170 milhões para R$23 milhões e atualização do contrato padrão após dez anos. A BBCE também lançou metodologia de risco construída com participação dos agentes.
O painel abordou ainda a necessidade de novos modelos para flexibilidade e uso de baterias, tema apresentado pelo consultor internacional Luiz Maurer. Ele destacou que países avançados adotaram múltiplos arranjos comerciais, enquanto o Brasil ainda concentra a discussão em poucos formatos. “Bateria é um canivete suíço. Precisamos aprender a operar esse novo conjunto de tecnologias e testar diferentes abordagens”, afirmou.
Com foco em segurança, liquidez e inovação, o EAML 2025 reforça que a abertura total do mercado livre brasileiro será sustentável apenas com bases sólidas e modelos adaptados às novas demandas da transição energética.
- Flexibilidade elétrica vira prioridade: Brasil e América Latina correm para evitar riscos operacionais
Painel do EAML 2025 mostra que baterias, sinais de preço e agregadores serão decisivos para garantir equilíbrio e segurança
No painel Mercados de Flexibilidade e o Papel do Comercializador, especialistas alertaram que a transição energética acelerada exige flexibilidade sistêmica para lidar com a variabilidade das fontes renováveis e evitar riscos operacionais. Países como Brasil, Austrália e Colômbia compartilham desafios semelhantes, mas com diferentes graus de urgência.
Alex Cruickshank, da Oakley Greenwood, trouxe a experiência australiana, onde 35% da matriz já é renovável e redes regionais operam no limite. Ele defendeu coordenação avançada, digitalização e automação para integrar baterias, veículos elétricos e recursos distribuídos. “A flexibilidade deixou de ser opção. É uma necessidade sistêmica”, afirmou.
Na Colômbia, Diana María Pérez, da XM, destacou que a dependência hídrica aumenta vulnerabilidade em períodos de seca e que o país avança na definição do modelo de participação do armazenamento e na preparação de novos leilões. “Flexibilidade depende de recursos, serviços e regras que permitam que os dois funcionem”, disse.
Do lado brasileiro, João Guillaumon, da Auren Energia, apontou que a participação das hidrelétricas caiu de 65% para 45% em cinco anos, enquanto solar e eólica somam 40%. Ele defendeu uso combinado de baterias, hidrelétricas reversíveis e novos sinais de preço para consumidores cativos. “Adiar decisões compromete a segurança energética futura”, alertou.
Maria Cândida, do ONS, reforçou a urgência: a curva do pato, prevista para 2027, já se tornou realidade em 2025. Em agosto, um vale de carga exigiu corte quase total da geração solar e eólica e uso de reservas operativas. “Pequenos montantes isolados não resolvem. Precisamos de agentes capazes de consolidar volumes e fornecer flexibilidade de verdade”, afirmou. Ela listou três prioridades: resposta da demanda, expansão do armazenamento e agregadores para reunir cargas e geração distribuída.
O painel concluiu que flexibilidade é o novo eixo estratégico do setor elétrico, exigindo ação conjunta entre operação, reguladores e mercado. Com sinais econômicos claros, digitalização e modelos inovadores, o Brasil pode transformar um desafio urgente em oportunidade para consolidar um sistema mais seguro e eficiente.
Fonte: EAMIL – ENCONTRO ANUAL DO MERCADO LIVRE – 26 E 27 / NOVEMBRO 2025