ANGRA 3
(...). A decisão final sobre a continuidade ou não do empreendimento permanece indefinida. Um novo acordo entre os acionistas, divulgado pela Eletrobras, prevê, por enquanto, a rediscussão quanto a retomada da construção. Seria uma contrapartida por maior presença da União no conselho da elétrica. Contudo, o acordo também desobriga a ex-estatal de aportar recursos na usina caso o governo decida prosseguir, com a União se comprometendo a apoiar a venda da participação da Eletrobras na Eletronuclear, empresa responsável pelo projeto. Um novo estudo pelo BNDES está previsto.
Especialistas apontam que, no final das contas, a decisão de concluir Angra 3 se tornou mais política do que econômica. Os equipamentos já foram adquiridos e faltam 34% das obras para terminar tudo. Só que a modelagem financeira ainda gera dúvidas. O custo estimado de conclusão é de R$ 23 bilhões, enquanto os custos de descomissionamento permanecem tema de debate. A tarifa apontada no estudo do BNDES é de mais de R$ 600 por MWh. Não é das mais módicas, ainda assim é bem mais em conta que muita termelétrica por aí. Há urgência na decisão, pois a Eletronuclear tem recursos para manter os contratos de manutenção dos equipamentos apenas até meados do ano. O grande risco é a perda da garantia e longos prazos para substituição. A expectativa de alguns especialistas é que, caso a opção seja pela conclusão da construção, a usina possa ficar pronta em até seis ou sete anos.
ECONOMIA
Começamos hoje com a notícia de que o Ministério de Minas e Energia (MME) publicou portaria contendo a agenda regulatória da pasta para o período 2025-2027. O documento traz uma série de temas que serão regulamentados no biênio. O que ninguém entendeu é porque a reforma do setor elétrico não consta na lista. Vai saber. Na Câmara dos Deputados, enquanto isso, houve uma dura disputa, mas o PSD, partido ao qual o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, é filiado, faturou o comando da Comissão de Minas e Energia (CME), uma das mais importantes da Casa. O deputado Diego Andrade (PSD-MG) foi eleito presidente e, em conversa com jornalistas, prometeu diálogo permanente com o MME sobre os assuntos mais críticos do setor. (...).
E por falar em temas tensos, Silveiravoltou a reforçar o apoio do governo a medidas de desconcentração do mercado degás natural no país. A ideia é reduzir o custo do insumo para a indústria egeração termelétrica. Falta, claro, combinar com a Petrobras, que é agentedominante nesse segmento. Mudando agora de fóssil para renovável, a Empresa dePesquisas Energéticas (EPE) informou que há quase 3 Gigawatts (GW) em projetoscadastrados para o Leilão de Energia A-5, programado para agosto. Lembrando queo certame está reservado para usinas hidrelétricas. Do lado das renováveisintermitentes, a boa notícia é que as atividades no grupo de trabalho criado paratentar mitigar o problema do curtailment seguem aceleradas. Do lado da Aneel,também há várias ações em andamento, segundo garantiu o diretor-geral, SandovalFeitosa. O assunto é pra lá de urgente porque a modalidade de geração solarfotovoltaica não para de crescer no Brasil.
Dados recém-divulgados pelaAssociação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) apontam que afonte acaba de atingir a marca de 55 GW de potência instalada operacional. Jáde acordo com a Aneel, em fevereiro último, chegamos à marca de 5 milhões deunidades consumidoras que utilizam os excedentes e os créditos da energiaproduzida em micro e minigeração distribuída. No que se refere ao mercadolivre, o panorama não é diferente. A autoprodução liderou contratos de solar eeólica em 2024, segundo a consultoria Clean Energy Latin America (CELA). O bomdessa história é que o Brasil segue fazendo bonito no filme da transiçãoenergética.
POLÍTICA
O clima de convivência entre osdiretores da Aneel não anda muito amistoso como temos relatado ao longo dasúltimas edições da Volts. As reuniões semanais tornaram-se palco de rusgas elongos embates. Por isso, o setor está de olho no não menos complicado processode seleção dos candidatos a ocupar cadeiras no colegiado da agência. Além davaga aberta com a aposentadoria de Hélvio Guerra, há a previsão de substituiçãode Ricardo Tili, que deixa o cargo em maio próximo. O ministro de Minas eEnergia, Alexandre Silveira, disse estar convicto de que terá uma resposta em brevesobre as sabatinas dos indicados. Segundo Silveira, há dois nomes na Casa Civilda Presidência da República. Um deles, já conhecido, é o do secretário deEnergia Elétrica do MME, Gentil Nogueira Jr. Silveira prometeu divulgar embreve o segundo candidato. Aí é que a coisa pega. Isso depende da articulaçãopolítica do governo, comandada pela ministra de Relações Institucionais, GleiseHoffmann, com o Senado Federal.
CONSUMO E COMPORTAMENTO
Éno mínimo angustiante pagar todo mês uma despesa que pesa muito no bolso, semsaber exatamente como é composto esse tal custo. Pois é, segundo a BulbeEnergia, essa é a realidade dos respondentes de uma pesquisa que revela que,embora 8 em cada 10 consumidores leiam a conta de luz todo mês, metade temdificuldades para entendê-la. Nem mesmo a função da Bandeira Tarifária é bemcompreendida pelos entrevistados. E quem tem que ficar de olho na fatura mensalsão os consumidores do Piauí. A Aneel acaba de abrir uma Consulta Pública quevisa debater uma possível revisão tarifária da concessionária. O pessoalatendido pela CPFL Santa Cruz também precisa prestar atenção, porque a agênciaadiou a decisão sobre o reajuste anual, em meio a um caso meio parecido com oda Light, que relatamos na edição passada da Volts. Apesar de tudo, talvez não devamos nospreocupar tanto com a lisura das distribuidoras. As companhias com as melhoresavaliações dos consumidores foram premiadas pela Aneel, em Brasília na últimaquarta-feira, 19 de março. A cerimônia reconheceu empresas que se destacaram em14 categorias. Entre as vencedoras estão Energisa Tocantins, Sulgipe e CPFLSanta Cruz. Na visão do Instituto de Defesa dos Consumidores (Idec), porém, opanorama está longe de ser cor-de-rosa na Amazônia Legal. Estudo recém-divulgado,revela que a maior parte das distribuidoras da região não cumpriu a metaprevista de atendimentos do Programa Luz para Todos em 2024. (...)
DEMAISNOTÍCIAS
Apesar dos grandes esforçospromovidos pelas empresas especializadas (ESCOs) em prestar consultoria sobreconservação de energia para grandes empresas consumidoras, esse tema ainda estámeio longe de ser um campeão de audiência no Brasil. A boa notícia é que o MMEaprovou ajustes no orçamento do Plano de Aplicação de Recursos (PAR) doPrograma Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel). Para aimplementação da 5ª edição do PAR, foram arrecadados aproximadamente R$ 470milhões, um montante 5% superior ao previsto. Também foram propostas eaprovadas melhorias na destinação dos recursos, incluindo o fortalecimento dacapacitação laboratorial. Outro ponto que merece destaque positivo é que omercado livre continua bombando. Para se ter uma ideia, a Câmara deComercialização de Energia Elétrica (CCEE) concluiu a migração de 2.443 novosconsumidores ao longo de fevereiro. A Cemig, por sua vez, tem muito acomemorar. Anunciou que se aproxima de 150 MW médios comercializados nosegmento varejista.
Em meio a uma safra de resultados de 2024, em quepredominaram lucros vistosos, uma empresa, em particular, chamou a atenção. AEneva voltou a registrar prejuízo. E não foi uma perda qualquer. Bateu em R$962 milhões. Esse montante superou bastante o valor da linha vermelhaverificada em 2024, quando a empresa registrou R$ 290 milhões de prejuízo. E aPSR, olho que tudo vê, deixou o mercado de orelha em pé em relação à ItaipuBinacional. Segundo a consultoria, a judicialização da Tarifa de Energia de Otimização(TEO) da geradora pode ser uma eventual surpresa nada agradável para o setor em2025. O problema é que a TEO de Itaipu impacta na composição do PLD mínimo e asua exclusão vem sendo questionada. Para a diretora técnica da consultoria,Paula Valenzuela, caso haja alguma movimentação nessa direção, contratos jáformados podem ir parar nos tribunais. O assunto não é novo. Desde 2023 é queessa lebre vem sendo levantada no setor, sem que se chegue a uma conclusão. (...).
Fonte: VOLTS By CANALENERGIA - edição 151ª, de25/03/2025